Dívida Pública Interna do Brasil: o que é, por que o governo rola e por que não usa as reservas internacionais

Se você é um trabalhador formal ou informal que paga suas contas, faz vaquinha para comprar o botijão de gás ou se vira para não atrasar o carnê da loja, este texto é para você. Vou explicar, de forma simples, o que é a dívida interna do Brasil, por que o governo não paga tudo de uma vez e por que não usa as reservas internacionais (que são em dólares) para pagar a dívida.

1. O que é a dívida pública interna?

Imagine que o governo é como uma família que gasta mais do que ganha. Para cobrir o buraco financeiro no orçamento, a família faz empréstimos. O governo faz algo parecido: emite “títulos da dívida” e vende para bancos, fundos de investimento, pessoas físicas como você e outros. Quem compra esses títulos, empresta dinheiro ao governo e recebe de volta com juros depois.

Então, essa é a dívida pública interna: o que o governo deve para quem ele emprestou dinheiro em reais, dentro do Brasil. Em 2025, essa dívida estava em mais de R$7 trilhões.

2. Por que o governo não paga tudo logo?

Assim como uma pessoa que paga o mínimo do cartão de crédito e rola a dívida, o governo também faz isso: quando a dívida vence, ele emite novos títulos para pagar os antigos. Isso se chama rolagem da dívida.

Divida externa 1

Exemplo: suponha que você pegue R$1.000 emprestado e, ao invés de pagar com dinheiro do bolso, faz outro empréstimo de R$1.000, geralmente com taxa de juros maior, para cobrir o antigo empréstimo. Isso é o que o governo faz para manter as contas funcionando sem dar calote.

Se o governo tentasse pagar tudo de uma vez, teria que:

  • Aumentar impostos bruscamente (o que pesaria no seu bolso);
  • Cortar serviços essenciais como saúde, educação e auxílios sociais;
  • Ou emitir mais dinheiro, o que geraria inflação.

Por isso, ele opta por ir pagando aos poucos e renovando o restante da dívida. Com o passar dos tempos as necessidades do governo aumentam, ele faz novos empréstimo oferecendo juros maiores para poder controlar o pagamento das dívidas que vão vencer.

3. E as reservas internacionais? Por que não usar esse dinheiro?

O Brasil tem mais de US$ 340 bilhões em reservas internacionais (algo em torno de R$1,7 trilhão). Parece muito, né? Mas tem um detalhe importante: esse dinheiro está em dólares, não em reais.

Vamos comparar com sua vida: é como se você tivesse uma boa poupança, mas toda em dólar guardada num cofre. Quando chega a conta de luz ou do supermercado (que é em real), você não pode simplesmente pagar com esses dólares. Você teria que trocar por reais, e se fizer isso em grande quantidade, o dólar cai de preço e você ainda atrapalha o mercado.

Além disso:

  • Essas reservas não estão com o Tesouro (quem paga a dívida), mas com o Banco Central (que cuida do câmbio e da estabilidade financeira);
  • Elas são como um “seguro” para o Brasil em tempos de crise. Se faltar dólares no mundo ou o Brasil não conseguir importar remédios, combustíveis ou pagar dívidas com o exterior, são essas reservas que salvam;
  • Mesmo que usássemos tudo, ainda não daria para pagar toda a dívida interna, que é muito maior que o valor das reservas. A nossa dívida interna em reais é quase três vezes maior que as reservas internacionais se convertidas em reais.

Entender isso ajuda você perceber que as decisões do governo, mesmo quando parecem estranhas, têm suas razões. E que, assim como na vida de quem trabalha duro, nem sempre é possível quitar tudo de uma vez sem se enrolar mais depois

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